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Empoderamento feminino nos filmes infantis


Recentemente eu fui assistir ao filme "Os Croods 2: Uma Nova Era". Fui com a família para o drive-in, fiquei apertada no banco de trás (as crianças têm prioridade neste caso!) mas valeu à pena. O filme é muito bem feito, alegre e divertido. Mas o filme é bem mais do que uma boa história infantil. Ele traz questões importantes para a tela, como o embate cultural entre dois povos, protagonismo feminino, a supervalorização do individualismo e a sensibilidade masculina. Mas eu fiquei impactada (positivamente!) com duas cenas em especial e é sobre elas que falarei nesse post. Se você ainda não assistiu ao filme e vai assistir, informo que darei dois pequenos spoilers. Nada que mude drasticamente a emoção do filme mas se você não gosta de saber de nada, é bom parar a leitura por aqui.


Primeiro deixa eu explicar que filme é esse. O Croods (o 1!) é um filme de 2013 e apresenta uma família da Era pré-histórica, em que os humanos viviam na natureza dentro das cavernas, alimentando-se de raízes, folhas e animais e fugindo de predadores para sobreviver. O Croods 2, lançado no Brasil em 2021, tem como sinopse:


Em busca de um habitat mais seguro, a família pré-histórica Crood descobre um paraíso isolado que atende a todas as suas necessidades. Infelizmente, eles também devem aprender a viver com os Bettermans, uma família que está alguns degraus acima dos Croods na escada evolutiva. À medida que as tensões entre os novos vizinhos começam a aumentar, uma nova ameaça logo impulsiona os dois clãs em uma aventura épica que os força a abraçar suas diferenças e se fortalecerem e sobreviverem juntos.

A primeira cena que realmente me chamou bastante atenção foi quando os Croods encontram uma enorme e frutífera área da floresta, residida pelos Betterman (cujo significado é literalmente "melhor homem", em inglês) e o Guy (namorado da Eep que vive com a família Croods) reencontra antigos amigos que foram responsáveis por sua criação, e com eles, a jovem Dawn (filha do casal). Infelizmente, o mais esperado nesse tipo de situação é ver a trama criar um embate entre as duas personagens mulheres, alimentando indiretamente a rivalidade feminina e os ciúmes descontrolados, bem como a competição por um homem. Mas NÃOOOOO!!! Em Croods 2, elas se tornam AMIGAS imediatamente:

A cena completa (que não aparece no vídeo acima) foi feita para imaginarmos que o desfecho seria o da rivalidade feminina. Guy e Dawn se reencontram depois de anos, se abraçam, ficam felizes, relembram histórias em comum do passado, têm o mesmo bicho de estimação (dois bichos-preguiça que logo se apaixonam) e falam sem parar de tão empolgados com o reencontro. A cena mostra a Eep com uma expressão estranha olhando os dois. O que nos vem à cabeça? Ciúmes! Ela vai brigar com o Guy. Ela vai disputá-lo com Dawn. E aí, a Eep se aproxima da Dawn com uma cara bem brava e pergunta: você é uma menina? outra adolescente?


E, de repente, Eep levanta a Dawn no ar e começa a girá-la: AMIGAAAAAA!!! Eu nunca tive uma amiga garota! E, instantaneamente, elas se tornam MUITO amigas.

Para ler mais sobre esse tema, acesse nosso post Rivalidade Feminina: Quem ganha com isso.

Em nenhum momento do filme há qualquer referência a alguma possível rivalidade ou ciúmes entre elas. Não há competição. Elas são amigas e se ajudam. Lindo de se ver!



Outra cena que eu gostei bastante do filme foi ver um grupo predominantemente formado por mulheres, liderado pela matriarca, salvar os homens que estavam em apuros e seriam devorados pelo monstro. São as mulheres que se reúnem e bolam um plano para salvá-los. Cada uma com as suas vantagens e pontos fortes. Na maioria dos filmes é a mulher (princesa, rainha, esposa, namorada, filha, órfã, etc) que normalmente está em perigo e que é salva por um bravo e corajoso guerreiro/príncipe. Ou um inteligente, esperto e belo plebeu. Dessa forma, a ideia de que as mulheres salvam os homens, contesta um modelo obsoleto de contação de histórias infantis nas quais sempre existia uma donzela em perigo, aguardando ser salva pelo príncipe encantado.


Existem outros temas muito interessantes que são abordados no filme: diferenças culturais, paternidade, sensibilidade masculina, a supervalorização ao individualismo, modernidade, entre outros. Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi o empoderamento feminino.


E o que me inspirou a escrever esse post não foi "apenas" o filme Croods 2. No dia anterior, tínhamos assistido a outro filme infantil que trouxe o protagonismo feminino: Raya e o último dragão.

"Logo no início fica claro para o espectador que Raya possui uma diferença gritante em relação às heroínas que a antecederam e que passaram por uma jornada de autoconhecimento e libertação para perceberem a guerreira que existia dentro de si. A mais nova protagonista da Disney, desde o minuto inicial, já tem total conhecimento de sua garra e suas habilidades de batalhas, algo que a tornou desconfiada e cética. Logo, fica claro que o arco de Raya mostrará uma história sobre assumir riscos, principalmente quando eles consistem em confiar em outras pessoas."

Raya e o Último Dragão faz história por trazer a primeira princesa do sudeste asiático da Disney, mas também se torna um filme atemporal que pode ter diversas interpretações e inserido como metáfora nos mais variados contextos políticos, econômicos e sociais. A quebra do padrão de ter alguma temática com príncipe encantado ou casamento é também um ponto forte. Isso não é tratado e nem falado no filme. Também não se fala em vestidos, festas, maquiagem, etc. Raya não possui comportamento ou visual puramente femininos, mas isso está longe de torná-la menos mulher. Na verdade, é gratificante ver uma produção de alcance global mostrar para as gerações mais novas que isso está cada vez mais normalizado.


Desde a estreia da animação “Valente”(2012), que promoveu debates sobre a independência feminina ao apresentar Merida, a princesa que não queria casar, muitas animações estão trazendo à tona discussões importantes e extremamente modernas.


Histórias como esta, puderam ser observadas em animações como: “Frozen”(2014), “Frozen 2”(2019), “Moana” (2016) e “Mulan”(2020). Todos estes longas são caracterizados pela valorização da força feminina e a capacitação das mulheres como heroínas do filme.

Os Croods 2” e "Raya e o último Dragão" se juntaram a esses filmes que ilustram a luta pelo empoderamento feminino.


Sei que o caminho é longo mas considero um grande salto ver filmes com esse grau de visibilidade feminina e conteúdo, serem lançados e fazendo sucesso entre as crianças e jovens (e adultos!) que passaram décadas inundados por idéias que reforçavam estereótipos e colocavam a mulher em um papel de submissão ao homem salvador.

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