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Covid-19 e a saúde mental das mulheres

Foto do escritor: Carol CamposCarol Campos
“O cuidar é historicamente dividido de forma desigual”

Dra Valeska Zanello


A pandemia do novo coronavírus impactou a saúde mental e aspectos comportamentais de homens e mulheres, mas pesquisas mostram que foram elas as mais afetadas na saúde mental.

Pesquisa realizada pela Sempreviva Organização Feminista (SOV), demonstrou “que as dinâmicas de vida e trabalho das mulheres se contrapõem ao discurso de que a ‘economia não pode parar’, mobilizado para se opor às recomendações de isolamento social. Os trabalhos necessários para a sustentabilidade da vida não pararam – não podem parar. Pelo contrário, foram intensificados na pandemia”.


Nesse sentido, a pesquisa destacou que, em média, 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia.


Além disso, o isolamento social colocou em risco o sustento dos lares para 40% delas. Segundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT), são as que mais comprometem sua renda e emprego com a crise econômica.


De acordo com pesquisa americana realizada pela ONG Kaiser Family Foundation, 53% das mulheres declararam constante apreensão e estresse durante a pandemia, em contraposição ao índice de 37% dos homens. Isso se consolida sobretudo por já possuírem risco significativo de desenvolverem sintomas de transtornos de humor e ansiedade, tanto por influência hormonal como pela sobrecarga emocional.


Um dos fatores associados a essa sobrecarga emocional se refere ao acúmulo de papéis desempenhados pela mulher no âmbito social e familiar.


No período de quarentena, esses fatores se sobrepõem, uma vez que as atividades de trabalho home office inevitavelmente entram em confronto com a atenção aos cuidados dos filhos, sobretudo em relação ao acompanhamento das lições escolares desenvolvidas pelo ensino remoto.


Além disso, as atividades domésticas também se intensificam pelo convívio de todos os familiares, a falta de divisão de tarefas e pela inviabilidade do auxílio de babás, empregadas ou mesmo de parentes, em razão das recomendações de contato reduzido, principalmente quando existe a presença de pessoas do grupo de risco dentro de casa.


De acordo com a ONU, a COVID-19 "afetará desproporcionalmente" as mulheres porque"elas ganham menos, economizam menos e têm empregos mais vulneráveis" do que os homens. Em seu relatório mais recente, a CEPAL registrou que, em 2020, a desigualdade nas taxas de emprego e na participação laboral foi agravada, especialmente para as mulheres. Assim, “a injusta divisão sexual do trabalho e as obrigações do lar”, que caem primordialmente sobre elas, ameaçam a autonomia e o exercício de direitos das mulheres.


O confinamento colocou sobre as mulheres uma sobrecarga nas atividades de cuidado não remunerado do lar, que elas já realizavam antes da pandemia. Em um dia normal, as mulheres gastavam quase três vezes mais tempo do que os homens em tarefas domésticas não remuneradas. E a crise da Covid-19 não mudou isso. De acordo com uma pesquisa realizada em 17 países em 2020, homens e mulheres assumiram mais responsabilidades pelas tarefas domésticas, mas a maior parte do trabalho continua a recair sobre elas.


A UNESCO projetou que 11 milhões de meninas não poderiam voltar à escola devido à pandemia (até 2020!). Quando uma menina para de receber educação, isso a coloca em risco de gravidez na adolescência, casamentos precoces e forçados, abuso e violência. “Para muitas meninas, a escola é mais do que a chave para um futuro melhor. É um salva-vidas ”, afirma a UNESCO. Além disso, a ONU destacou que epidemias anteriores mostraram que as adolescentes correm o risco de não voltar a estudar, mesmo depois da crise.


Você sabia que 70% dos profissionais de saúde são mulheres? E que apesar de serem maioria, ganham menos que os homens?

A diferença salarial média no setor saúde é de 28%, segundo a OMS. O trabalho feminino contribui com US$ 3 trilhões para a saúde global. Porém, metade desse valor corresponde a trabalho assistencial não remunerado. Além disso, com a Covid-19 veio outra desigualdade: em alguns países, as infecções por coronavírus entre os profissionais de saúde são o dobro entre as mulheres.


Outro dado preocupante relacionado à maior permanência domiciliar diz respeito à incidência de casos de violência doméstica contra as mulheres. O isolamento social devido à pandemia, agravou ainda mais a situação das mulheres que vivem no ciclo de violência em seus lares, e que passaram a ter que conviver com seus agressores 24 horas por dia. O Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que houve aumento do percentual de ocorrências em residência nos registros dos crimes mais graves no Brasil.


Para Violência Física, o percentual aumentou de 59,8% em 2019 para 64,1% em 2020. Para Violência Sexual, uma variação ainda maior: de 57,8% em 2019 para 65,9% em 2020.


Ao consolidar todo esse panorama, a saúde mental da mulher se torna cada vez mais vulnerável e propensa a sofrer sérios prejuízos.


Referências:

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2 Comments


amvieiracampos
amvieiracampos
Apr 06, 2021

É impressionante a desigualdade entre homens e mulheres ! Gostaria muito que todos os homens lessem esse artigo. Mas , tenho esperanças mesmo é de que a conscientização feminina mude esse cenário no futuro ! A dos homens vai ser mais dificil , mais lenta ... Infelizmente !


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Gabriela Campos
Gabriela Campos
Apr 06, 2021

A pandemia expôs a crueldade da desigualdade de gênero. Não bastasse o medo da doença... é muito sofrimento. :(

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