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Corpo objeto em pleno século XXI


A luta é antiga. Estamos aí gritando pra que nós, mulheres, deixemos de ser associadas ao prazer, vistas como um corpo, um pedaço de carne ambulante. Não aceitamos mais ser vistas em propagandas de cerveja, de biquíni, hipersexualizadas, com homens babantes à nossa volta. Daí que estou tentando achar uma notícia positiva, no meio de todo esse caos, pra vir comentar por aqui – claro, realmente não encontrei – e me deparo com esta: “Quanto rende o OnlyFans? Os lucros e perrengues de brasileiras que vendem ‘nudes’ no site”. Fiquei curiosa, ainda mais porque era escrita por uma mulher, uma de nós.


O que mais me chamou a atenção foi a condução do texto. Não sei se foi a pauta que ela recebeu, ou se foi o caminho que escolheu trilhar, mas a matéria mostra que vender ´nudes´ é um excelente negócio. A repórter dá dicas pra quem quer entrar no ramo. É preciso foco, organização, vocação e um pouco de sorte, ensina ela. E depois segue apresentando vários cases de sucesso. Péra aí. Não é preciso ser feminista de carteirinha pra saber que objetificar o corpo feminino não é legal. Apesar de cada uma fazer do seu corpo o que quiser. O refrão da música “Triste, Louca ou Má”, da banda Francisco El Hombre, já virou o hino de qualquer mulher: um homem não te define, sua casa não te define, sua carne não te define, você é o seu próprio lar”.


Mas muita calma nesta hora. Cada uma é dona do seu próprio corpo sim. Só que a objetificação feminina tem consequências gravíssimas. Vou começar pela, digamos, mais óbvia, que é o estabelecimento de padrões estéticos completamente irreais. Isso aí, minha amiga, acaba com o psicológico de qualquer mulher. Porque quem não atende ao padrão estereotipado por esse mundo que objetificou nossos corpinhos se sente depreciada, logicamente. E você vê isso no trabalho, na rua, até dentro de casa. As mulheres são hostilizadas pelo seu peso, pelo seu cabelo, pela cor de sua pele, pela sua idade e por aí vai. Se você não se encaixa no perfil, lascou.


A consequência número dois nada mais é do que a violência contra a mulher. Se a mulher é um objeto, uma coisa, ela não sente vontade, emoção, dor nem prazer, não é mesmo? Só para se ter uma ideia, de acordo com balanço do governo federal, em 2020 foram registradas 105.671 denúncias de violência contra a mulher, recebidas pelo Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) e pelo Disque 100 (Direitos Humanos). Isso significa uma a cada cinco minutos. Mas, veja, essas foram as que tiveram coragem de denunciar. Os números reais devem ter sido, chuto eu, pelo menos cinco vezes mais.


Pra fechar, a objetificação do corpo feminino traz, com ela, a cultura do estupro. Em média, no Brasil, segundo a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é estuprada a cada oito minutos. E um detalhe assustador: em 84,1% dos casos, o criminoso é conhecido da vítima (familiar ou pessoa de confiança). E está claro, até por conta desse último dado, que isso acontece por conta da objetificação, porque o homem acha que tem o direito de fazer. A mulher é um objeto para satisfazê-lo sexualmente. Nas delegacias, quando se vai ouvir os argumentos do agressor, isso fica ainda mais evidente: ela estava bêbada, era a roupa curta que usava, ou era a própria esposa que, por razões anteriores, o provocou.


Conclusão: Não dá para ser igual quando se é vista como objeto.


Quer saber mais? Assista o vídeo a seguir: A Mentira Sexy (The Sexy Lie) Legendado - Caroline Heldman at TEDxYouth@SanDiego

Caroline Heldman oferece uma conversa direta e um surpreendente olhar para a objetificação feminina na nossa sociedade. Ela ilustra como isso avançou, como nós ficamos acostumadas aos seus efeitos prejudiciais e o que nós podemos fazer individualmente e coletivamente para demolir os paradigmas que nos impedem de ter um mundo melhor.



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